O Aniversário do Gigante: Maracanã, 75 Anos de Glórias, Reformas e uma Crise de Identidade

O Maracanã faz 75 anos, mas o presente é do Flamengo? Enquanto o vovô assopra as velinhas, Cazé sofre no Mundial e o Brasileirão... bem, o Brasileirão nos deixou no vácuo.
Hoje, 16 de junho, o nosso Templo do Futebol completa 75 anos. Um brinde ao velho e bom Maracanã. Palco de lágrimas inesquecíveis, como as do "Maracanazo" em 1950; de feitos divinos, como o milésimo gol de Pelé; de redenções épicas, como a de Romário nos colocando na Copa de 94; e até de glórias olímpicas com o ouro da Seleção em 2016. Ele viu de tudo. Mas a pergunta que fica no ar, enquanto as velinhas são sopradas, é: o Maracanã de hoje ainda é o Maracanã?
A questão vai além da nostalgia. Uma matéria recente levanta o paradoxo do Navio de Teseu: se todas as peças de um navio são trocadas ao longo do tempo, ele continua sendo o mesmo navio? O Maraca perdeu a geral, aquele setor democrático onde o povão via o jogo em pé. Ganhou cadeiras numeradas, camarotes VIP e uma roupagem moderna para atender aos padrões da FIFA para a Copa de 2014 e o Pan de 2007. Ficou mais seguro, mais confortável e, para muitos, mais sem alma.
A crise de identidade, porém, é ofuscada por uma crise ainda maior: a de propósito. Atualmente, o estádio é gerido por um consórcio formado por Flamengo e Fluminense, que assinou uma concessão de 20 anos no valor de R$ 186 milhões. Uma dupla que, na prática, manda e desmanda no gramado mais sagrado do país, muitas vezes dificultando a vida do Vasco, que precisa negociar arduamente para usar o estádio em condições justas. O poder, antes simbólico, agora tem contrato e CNPJ.
E o presente de aniversário? Uma bomba. O presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, segue firme com o plano de construir seu estádio próprio, com previsão de inauguração para 2029. É a ironia suprema: no dia em que celebra 75 anos de vida, o Maracanã descobre que seu principal inquilino está de mudança marcada. A ideia de Landim é usar o Maraca apenas para clássicos, transformando o gigante em um "plano B" de luxo. Isso não é apenas uma mudança de endereço; é uma redefinição de poder no futebol carioca e brasileiro. O movimento do Flamengo por independência financeira, buscando controlar 100% de suas receitas de jogo, pode deixar para o Rio de Janeiro um elefante branco caríssimo, subutilizado e melancólico. Feliz aniversário, Maraca. O futuro parece solitário.
Sofrimento em Dólares: O Mundial de Clubes na Tela do Cazé
Enquanto o debate sobre estádios ferve por aqui, do outro lado do Equador, nos Estados Unidos, começou o novo e anabolizado Mundial de Clubes da FIFA. E quem melhor para traduzir a experiência do torcedor brasileiro do que Casimiro Miguel? No sábado, durante a transmissão do empate sem gols entre Al Ahly e Inter Miami, o Cazé nos proporcionou um momento de puro suco de Brasil.
Aos 40 minutos do segundo tempo, o atacante El Shahat, do Al Ahly, recebeu a bola livre, na cara do gol, e... hesitou. A reação de Casimiro foi a de todos nós no sofá: um grito de agonia que ecoou pela internet. "Que isso, cara? Que isso, El Shahat? Tu está de sacanagem, meu irmão! Você está de brincadeira, El Shahat!". Em um torneio bilionário, com toda a pompa da FIFA, a imagem que marcou a estreia foi a de um streamer sofrendo como um torcedor comum. Isso demonstra uma mudança fundamental: a narrativa emocional, a conexão autêntica, hoje vale mais do que a transmissão polida e oficial. Onde a FIFA vê um "produto global", Casimiro vê uma bola que tinha que entrar.
Enquanto isso, em outros campos da América, a lógica prevalecia. O Bayern de Munique, no domingo, estreou com uma vitória enfática sobre o Auckland City, mostrando que a distância financeira e técnica para os europeus continua abissal. E embora a torcida do Boca Juniors tenha invadido Miami com sua tradicional "mística", a realidade é que, no fim do dia, o que conta é o que acontece dentro das quatro linhas. E, às vezes, o que não acontece, como bem sentiu El Shahat – e o Cazé.
E ontem, domingão, teve a estreia dos times brasileiros na competição internacional. O Palmeiras bem que tentou com as táticas de um português, Abel Ferreira, vencer o português Clube do Porto. Tentou, criou chances, mas não “botou lá dentro”. Resultado final um OXO zero a zero. Já o Botafogo do americano John Textor, num jogo que começou ontem e terminou nas primeiras horas de hoje, venceu por 2 a 1 a principiante equipe norte americana do Seattle Sounders.
Resenha de Diretoria e Vestiário (cofre) Vazio
A verdadeira "pelada", no sentido de nudez, está nas finanças dos clubes. O drama agora é contábil. O presidente do São Paulo, Julio Casares, por exemplo, foi a público com uma promessa audaciosa: o clube, que hoje deve cerca de R$ 1 bilhão, estará com as contas zeradas até 2030 e voltará a ser um "player mundial" em 2028. A promessa é bonita, mas o cronograma é vago: "começará a soar melhor a partir de 2027". É o tipo de prazo que garante tranquilidade para o mandato atual e deixa a conta para o sucessor.
Autor(a) : Emerson Gonçalves
Publicado em: 16/06/2025
Última atualização: 16/06/2025
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