Cancelamento na vida off-line

A expressão pode ser nova. Mas a atitude de “cancelar” alguém não. Se pararmos para pensar no sentido real da expressão que tem sido tão intensa nas redes nos últimos meses, vamos nos conectar com tantas coisas, inclusive com algumas atitudes que nossos pais tiveram conosco em algum momento das nossas vidas! E que nós temos nas nossas vidas fora do online.
Cancelar uma pessoa significa excluir do seu “convívio”, das suas redes, alguém que, em sua opinião (e quem sabe na de milhares de outras pessoas) fez algo de errado. É como se fosse uma forma de punir alguém, querendo trazer à tona os erros dessa pessoa, para que ela possa aprender algo com suas atitudes equivocadas.
É o velho e bom castigo! Aquele castigo que recebíamos quando éramos crianças, depois de fazer algo errado, segundo nossos pais, educadores, familiares. Nós escutamos aquele sermão longo, éramos deixados em algum local sozinhos, para refletir sobre nossas atitudes. Se você parar para pensar, quantas vezes você mereceu estar de castigo? Muitas vezes, não é mesmo? Dizem os especialistas em comportamento infantil na atualidade, que de nada adianta os tais castigos, além de gerar rancor, ainda gera mais vontade de fazer algo fora do “correto”. Lá estava você cancelado pelos pais ou educadores, no canto do pensamento para mudar suas atitudes.
A sua mãe nunca cancelou aquele amiguinho que aprontava horrores com medo que você seguisse o mesmo caminho, mesmo sabendo que a bagunça era em conjunto? Por essa todos nós passamos, tivemos amizades que foram obrigatoriamente interrompidas pelo comportamento para que não seguíssemos o mesmo exemplo. Isso é um dos mais evidentes cancelamentos da vida off-line!
E aquele “gelo” que costumamos dar no relacionamento propositalmente? Quando a outra pessoa pisa na bola e queremos dar uma advertência, colocando-a de castigo no relacionamento. Não atendemos as ligações, não enviamos e nem respondemos mensagens, não aceitamos visitas e até devolvemos os presentes. E muitas vezes somos nós os cancelados. Pagamos pelo o que fizemos de errado no relacionamento, aprendemos (ou não) com o cancelamento e assim seguimos.
Quando é no casamento, fica mais complicado: alguém dorme no sofá ou na cama dos filhos, um levanta da mesa quando o outro senta, e assim caminha a humanidade. Cancelando! Seja onde for, as expressões ganham novos nomes, mas as atitudes quase sempre são as mesmas. O que muda é o formato. E se pensarmos no cancelamento como forma de protesto, ele tem o mesmo intuito do castigo, que foca no entendimento de uma ação e suas consequências. Mas se o castigo atualmente é tão criticado, por que então o cancelamento é real?
Autor(a) : Mariana Goulart
Publicado em: 08/03/2021
Última atualização: 07/03/2021
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