Vocês sabiam que as crianças conversam e contos seus “problemas” normalmente, como se não fossem segredos? Contam inclusive os segredos e os problemas de seus pais e familiares como se fossem conversas e dados normais de serem compartilhados! E para eles está tudo bem, não sofrem com esse tipo de compartilhamento de informações. 

No prédio onde moro há quase 10 anos, as crianças que residem lá, ou costumam visitar os avós semanalmente, cresceram praticamente juntas. Tiveram a fase de brincar no parquinho, na piscina dos bebês e agora já conversam sobre assuntos quase sérios, meio que papo de adolescente. E esses dias minha filha me contou que relata para os amigos as coisas que acontecem na nossa casa (como brigas, problemas com alimentação, escolar, dinheiro, etc). Ledo engano meu de achar que ela não falaria, afinal cada longa tarde em companhia dos amiguinhos, eu acabo por saber da vida de algum casal do prédio, separação, aquisição, entre muitos outros casos.  

A naturalidade que as crianças encaram os problemas é digna de admiração, afinal eles enxergam as coisas sem muito drama e com aquela perspectiva de que logo as coisas se resolvem, se ajeitam da melhor maneira. E se pararmos pra pensar, muitos dos problemas são assim, apenas nos causam ansiedade e angústia e então se resolvem. E nós sofremos horrores para então acabar pensando exatamente no quanto nos desgastamos situações que nem precisam de tanta atenção e energia.

Pensar assim seria tão bom, mas é tão difícil! Que diga a palavra preocupação (preocupação), que carrega no significado a ideia se ocupar anteriormente de algo. Sem eleger sua prioridade (sim, uma prioridade, já que não existem duas prioridades, é uma palavra que não tem "plural"). Vivemos num ritmo frenético de listas de afazeres e tarefas que são pura piada, afinal qual humano conseguiria dar conta de tanta coisa e ainda dormir e comer? E as mulheres, que têm a lista do trabalho, da casa, dos filhos, da beleza. Eis um dom das mulheres: amenizar. Tudo! Os problemas da escola da filha, os problemas da filha, os problemas do marido e do trabalho do marido, da casa, e muitos outros. Uma infinidade de panos quentes, como se diz por aí, que precisa colocar em tudo pra viver!

Mas como esse não é um texto feminista, vamos nos focar na leveza das crianças, que também adoram dramatizar alguns aspectos das suas vidinhas encantadoras. Acabar o pão de queijo, não assistir um desenho animado na televisão, perder um brinquedo. Para nós adultos é tão pouco, porque nós sabemos que dá pra fazer ou comprar mais pão de queijo no outro dia, sabemos que trocando o canal podemos assistir diversos outros desenhos, imagina então a noção do futuro que temos, e que muitos brinquedos ainda passarão por nós. E é por isso que muitas das crianças sofrem querendo ser adultos, achando que somos incríveis com a nossa capacidade de amenizar e resolver tudo! 

É sempre uma moeda de troca. Olhamos para eles e aprendemos. Assim como eles nos observam e repetem tudo, e aí está a necessidade de espelhamento, também chamada de rapport (repetir um padrão que admiramos). Talvez a gente precise aprender a minimizar alguns problemas, não sofrer por antecedência. E igualmente valorizar quando perdemos um “brinquedo”, valorizando o amor e tempo que o dedicamos e sabendo a falta que ele nos fará. Pode parecer tão pouco, tão simples, para nós tão cheios de razão e conhecimento. Mas dar valor a cada coisa no seu momento é tão maior e mais inteligente, certo?