Em tempos de confinamento, na vida real e na televisão, a gente fica pra lá de confuso para se situar nos desafios dessa nossa nova realidade que nos encontramos. Depois de dois anos numa vida, primeiro online e em seguida híbrida, a sensação é que tivemos apenas um ano compactado e cheio de emoções e turbulências. 

Mas aquela sensação do cachorrinho na janela do carro, depois de dias sem sair para um passeio, é real. Existe coisa mais gostosa que ver o mundo com os próprios olhos? De sentir o vento na cara e poder ver o sol, sentir calor, sentir frio porque estamos fora de casa, fora do abrigo que é a nossa casa. 

Uma grande parte das pessoas que ficou em home office no auge da pandemia se adaptou tão bem, que não voltou ao trabalho presencial. E claro que para algumas empresas este impacto foi positivo, afinal diminui o custo de muitas operações presenciais. Ultimamente quando você liga para uma operadora de telefone móvel ou de televisão a cabo você pode escutar as particularidades da casa de um atendente, já que muitos estão ainda em home office. A comida passou a ser pedida por aplicativos, ajudando a classe de motoboys a ter um emprego fixo e de certa forma, nos mantendo em contato com a nossa casa.

Mas todas estas, e muitas outras formas remotas de trabalho e de viver tem cada vez aumentando mais a fobia das pessoas por outras pessoas. Nunca se viu tantos desaforos gratuitos, críticas em redes sociais, brigas entre casais e famílias, falta de respeito com o próximo em geral. As pessoas ganharam coragem, por causa da proteção da tela, de estar criticando alguém por trás de uma tela, e acham que podem tudo. Ficam reclusas na sua vida remota achando que podem se meter no problema de todos ao seu redor, da vizinha às celebridades no Instagram. 

São tempos difíceis para quem quer pregar o amor hein! Em tempos de conflitos, as pessoas estão se tornando juízas da vida alheia e estão bem corajosas! O programa mais aclamado e adorado que consiste em trancar por alguns meses duas dúzias de pessoas em 2022 está passando por uma crise: os participantes queriam só paz e alegria. E começaram a ser criticados por isso, porque estavam em um jogo! Não de férias. E então agitaram pessoas novas para dar uma desestabilizada no povo e o conflito começar. Caso contrário a audiência cai, porque o povo aqui fora quer rolo! Mas depois que o caos se instala, o mesmo povo fala que o cancelamento é um absurdo! Decidam-se! 

Hoje uma amiga me relatou que voltou ao trabalho presencial no banco ao qual ela é funcionária. Disse que precisava de roupas sociais novas, depois de quase dois anos em home office. Relatou que seus sapatos de salto criaram bolhas nos pés no primeiro dia que retornou à agência. Confesso que aconteceu o mesmo comigo quando voltei às aulas presenciais que ministro na universidade. É um misto de felicidade, igual ao cachorrinho na janela saindo de casa, com a comodidade de usar um moletom no sofá, com o computador no colo e uma xícara de café na mão. Acredito ser o sentimento de 2022, a confusão!