A era dos super estímulos

Qualquer coisa ao nosso alcance. Rápido, prático, instantâneo. É só pegar o celular e chamar, comprar, alugar, retirar, enviar. Estamos no nosso pico máximo dos super estímulos, vocês já pararam para reparar isso, que nunca estivemos com tantas facilidades nas nossas vidas? Por um lado, isso é tão maravilhoso, porque não perdemos muito tempo, dinheiro e energia em coisas banais ou chatas que fazíamos antes, como passar horas numa fila de banco para pagar uma conta. Ou entrar no carro e atravessar a cidade sem saber se aquela pessoa estaria em casa para nos receber. Contabilizando, temos muitas vantagens!
Mas em algum momento, nos acostumamos. É normal, é trivial, e corriqueiro. As pessoas estão cada vez mais impacientes e é claro que sabemos o motivo. Se não esperamos mais as encomendas chegarem por meses, se pedimos comida pelo celular em segundos, se a internet vem por fibra ótica, qual exercício de paciência estamos fazendo? Até a meditação é feita num aplicativo, que nos mostra o tempo de concentração, nos conta algumas histórias e avalia nosso processo evolutivo de técnica. Por que precisamos ir até um centro de yoga para meditar então?
A experiência está virando uma economia de luxo. Deslocar-se, sentar e conversar, conhecer um local, desligar o smartphone, conectar-se com alguém ou com algo virou uma atividade rara e prazerosa para algumas pessoas que ainda cultivam sua paciência. Que ainda buscam o contato verdadeiro. É um misto de pessoas com estilo zen que pagam todas suas contas no aplicativo do banco. Pessoas que meditam com seus celulares, mas sentam para tomar um chá em uma varanda de hotel na serra. Um aventureiro que busca trilhas cinematográficas, com seu carro potente e tecnológico, onde fotografa com seu iPhone a paisagem linda para se desconectar com a correria do dia a dia.
São muitas ambiguidades que fazem parte da nossa atual realidade. Vivemos entre a busca pelos valores inegociáveis, mas com as facilidades da vida moderna. E está tudo bem, afinal quem não se conecta de alguma forma, acaba perdendo algumas coisas no caminho, como por exemplo a possibilidade de se comunicar com alguém da sua família que está do outro lado do mundo e quer mostrar às crianças numa chamada de vídeo. Não temos mais como retroceder, saímos de uma caixa na qual não podemos mais voltar, porque expandimos e não cabemos mais dentro dela!
Esse papo é comum, pode ser chato e maçante, porém é necessário. Infelizmente precisamos ponderar o exagero dos estímulos e facilidades. A linha tênue entre a comodidade e o exagero é visível e está batendo na nossa porta com um alerta: estamos perdendo algo no caminho, e não podemos voltar para buscar tudo que deixamos cair. O tempo ainda é nossa maior moeda e riqueza, passar horas assistindo vídeos nos aplicativos e nos entretendo com facilidades é um misto de dopamina com tristeza. Porque no fundo sabemos que poderíamos ter experimentado mais e assistido menos. Mas só uma pessoa pode fazer isso e tomar esta decisão: você! Retome seus hobbies, busque uma atividade física, assista a um conteúdo de conhecimento. Saia desse ciclo enquanto tem tempo de deixar de lado o superestímulo.
Autor(a) : Mariana Goulart
Publicado em: 19/02/2024
Última atualização: 06/03/2024
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