Polarização emocional e social

Temos acesso a muitos conteúdos, a muitos estilos de vida. Podemos nos adequar a ser novas personas sempre que quisermos. Pareceria bom, se isso não fosse nocivo e desgastante, cansativo e depreciativo. Passar o tempo todo se comparando a se moldando ao que parece melhor (e pode parecer fácil também) é o novo normal!
Nunca tivemos tantas pessoas sem personalidade no mundo. E isso não tem nada a ver com a forma emocional que você reage a tudo, mas sim pelo fato de toda hora as pessoas mudarem de estilo de vida, de profissão, de relacionamentos amorosos e de amizade. E não, isto não é uma crítica à evolução das pessoas, que depois de um tempo entendem que uma profissão não está dando certo, que precisa mudar um relacionamento tóxico ou buscar novas oportunidades.
Aqui estou falando de não ter foco, de não ter vontade de insistir em algo, em consertar algo! É olhar para um estilo de vida e achar que é melhor que o seu e simplesmente abandonar tudo pra mudar, se transformar em alguém quase que irreconhecível! Tenho certeza que você conhece pessoas assim, que você nem mais as reconhece como antes. Ou essa pessoa pode ser você certo?
As pessoas que mantêm sua boa índole acabam sendo as pessoas fora da curva, onde são raras e apreciadas simplesmente por serem o que todos deveriam ser, mas não são e cada vez são menos. O novo normal nos assusta, mas nos deixa claro que ser inconsequente, inconstante, incorreto, improdutivo, infeliz, infiel, etc., não é um desvio de caráter, mas uma questão de oportunidades, de falta de algo na vida que os levou a praticar atitudes erradas.
Um exemplo: o homem infiel antes se desculpava por ter grande apetite sexual e sua esposa não estar sempre disponível. Hoje o homem infiel busca alguém que está mais disponível para tudo do que “apenas” para o sexo. A pessoa improdutiva, que no seu meio de trabalho está desanimada e nem cumpre com suas tarefas e metas apresenta um atestado que vai provar para seus líderes que têm problemas sociais, que está com falta de motivação por diversos motivos que nem são da empresa. Ao invés de se motivar e buscar outros caminhos, vira uma pessoa amarga no time de trabalho onde todos precisam respeitar sua condição, ao invés de buscar um novo emprego e ser feliz em outro local.
Estamos normalizando aceitar o que sempre foi considerado fora dos padrões. Essa velocidade da vida, das comparações por causa das redes sociais nos carregam para uma inconstância severa, para um desânimo permanente, que acabam se tornando normal conviver com pessoas deprimidas e desmotivadas. E quando alguém está feliz, focado e cheio de garra, essa pessoa se torna a exceção, mesmo que isso fosse o que deveríamos aceitar como normal e saudável. Isso não é uma fala contra problemas psicológicos e emocionais, muito pelo contrário, é uma questão de achar que o normal é ser feliz, confiante, dedicado, e quem não consegue atingir um mínimo de felicidade, precisa rever, tratar, descansar para curar.
A maior prova disso é a quantidade de coachs e pessoas que querem nos ensinar a sermos mais produtivos, focados, alegres e saudáveis. Uma enxurrada de sabichões que querem nos ajudar a sermos normais. Porém, se temos disponíveis tantos profissionais nestas áreas, é porque, com certeza, a demanda é absurda! Há duas décadas atrás, as pessoas que não se encaixavam geralmente estavam sofrendo de alguma doença emocional ou psicológica. Precisavam esconder seus sintomas para serem aceitas. Hoje o novo normal é não se encaixar, não ficar muito tempo no mesmo lugar ou na mesma atividade. Trocar o tempo todo uma coisa por outra, ser pessoas diferentes, ou então carregar um fardo pesado de tristeza por não conseguir mudar e sair do lugar. O que antes era o meio do caminho, é a raridade. Pra variar, vivemos numa polarização emocional e social...
Autor(a) : Mariana Goulart
Publicado em: 14/10/2024
Última atualização: 14/10/2024
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